Certa vez, um jovem pai, querendo saber o segredo da paternidade, procurou um sábio que vivia enclausurado numa alta montanha. Lá chegando, logo expôs a este o seu problema, dizendo-lhe:
Mestre eu estou aqui porque preciso de respostas certas. Se for severo com meus filhos, considerem-me ditador; se sou gentil, dizem que sou fraco. Afinal, diga-me qual a fórmula para se criar um filho?
O sábio, mirando os seus olhos, tomou um cinzel, um bloco de madeira e disse-lhe:
Toma isto, meu filho, e leva-os contigo. Quando tiveres esculpido uma obra de valor, traga-a de volta e terás a tua resposta.
O jovem pai olhou o sábio com surpresa, mas, não querendo ser ingrato com quem dispensava um pouco do seu precioso tempo e gentileza de sua simples moradia, levantou-se e saiu levando os materiais. Chegando a casa cabisbaixo e um pouco entristecido, foi logo cercado pelos filhos querendo saber para que serviam aqueles instrumentos. Disfarçando sua apreensão procurou um local adequado para iniciar o trabalho que lhe foi dado pelo sábio. Depois de certo tempo, conseguiu concluir a obra e voltou a subir a montanha. Bastante orgulhoso, apresentou ao sábio o resultado de seus esforços. E tomando-a entre as mãos, o sábio passou a apreciar o feito nos seus mínimos detalhes, tendo ao final afirmado:
Muito bem, meu caro pai. Quando golpeavas o cinzel na madeira, o que observavas?
O jovem pai bastante emocionado, disse ao sábio:
Meu respeitável Mestre, eu observei que no início do trabalho, eu dava golpes duros, seco, desajeitados, conseguindo então ferir a madeira. Mais tarde, com a prática, fui aprendendo a golpear com menos força, usando melhor o cinzel e tirando somente as lascas necessárias. E foi aí que:
Aprendi a conhecer melhor a madeira, a amara a obra que já vislumbrava quão bela seria antes mesmo de tomar forma;
Aprendi a respeitar suas limitações e as minhas;
Aprendi que para cada obra é necessário um tipo de madeira; Aprendi igualmente que nas nossas ações é preciso paciência, cuidado com os detalhes, saber ouvir e olhar com muita concentração, a fim de aproximarmos da perfeição;
Aprendi que outros podiam me ajudar no cumprimento da missão, mas cabe a nós, especialmente, a tarefa de terminar o trabalho proposto;
Aprendi a não esperar a perfeição, visto que meus próprios esforços são imperfeitos, e que muitas vezes podemos errar;
Aprendi que mesmo que houvesse um modelo a seguir, cada obra é única, não aceita imitações;
Aprendi que a beleza já reside na madeira, sendo preciso apenas ajuda-la a trazer isto para fora;
Aprendi que por detrás de uma aparência rude, descuidada, pode estar uma madeira nobre, danificada, precisando de reparos, mas que pode ser recuperada se com carinho soubermos nela trabalhar;
Aprendi a olhar para dentro de mim mesmo, e ir além;
Aprendi que quanto mais perto de Deus me sinto, mas procuro passar isso para o que estou fazendo;
Aprendi e me conscientizei que assim procedi visando aprender mais que ensinar.
Depois de tais explicações, o sábio olhou fixamente para o jovem pai e disse-lhe:
Muito bem, meu amigo. Aprendeste o ofício Paterno, aprendeste a ser Pai!
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