segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

VIRTUDES TOLEDO VALLE 1940- 2011

Virtudes em poesia!

O que poderíamos esperar daquela
que quando nasceu
o nome de Virtudes recebeu?
Disposição firme e constante para a prática do bem.
Força moral e legitimidade.
fé, esperança e caridade:
estender as mãos
sem olhar a quem!
disciplina e lealdade,
gosto pelo trabalho e eficiência:
esse é o significado,
essa foi a sua essência, 
e, isso tudo, em excelência!

Em tempos de guerra nasceu.
uma infância difícil venceu!
E a sua disposição começou
quando tão cedo ela se prontificou,
deixou de lado a boneca
e ajudou a criar os irmãos...
Tempos difíceis de outrora
que a minha mãe sem demora
tudo, tudo enfrentou.

E o que poderíamos esperar daquela
que os cinco filhos
em sua casa pariu?
Quando um dia eu a perguntei
como foi que aguentou
toda dor que enfrentou,
ela respondeu na hora:
“fiilha,junto com a parteira
estava sempre Nossa Senhora”.

Quando um de vocês chegava,
e o chorinho eu ouvia
toda dor logo passava
de tanta paz que eu sentia...

Quando um de vocês chegava,
e o rostinho eu logo via,
o meu coração transbordava
de tanto amor e alegria...

Quando um de vocês chegava,
e os olhinhos ia abrindo,
Deus lá do céu sussurrava
que era mais um anjo lindo,
prá minha vida alegrar!

Assim nasceram os  quatro homens,
que ela tanto amou...
E depois de tantos homens
foi a minha vez que chegou!

Quando você nasceu,
a Maria me contou,
a sua mãe a mostrava
para todo mundo e dizia:
“olhe a alegria da minha vida,
a menininha que eu tanto queria”.

E foi por nós que a sua vida,
cada segundo se deu.
cada dor, todo sofrimento foi por cada filho seu.
Foi pra ficar mais um pouquinho
que a minha mãe suportou
os tempos difíceis de outrora
e que ela  tudo enfrentou.
E depois que nós crescemos,
depois de todo o sacrifício que enfrentou,
o que poderíamos esperar daquela
que no Posto de Saúde
com tanta dedicação trabalhou?
Era sempre madrugada
quando a minha mãe saía.
Mais um dia começava
e a sua rotina se seguia.
Lá no Posto ela cuidava
como de todo mundo fazia,
de todos que por lá passavam
com amor a carinho recebia!

Mais um dia começava,
a minha mãe lá estava
e a sua rotina se seguia.
É assim que ela cumpria
a sua grande missão...
cuidava de  tudo e de todos
com o zelo maior do mundo!

Havia sempre um cantinho.
Havia sempre um pouquinho.
Ela dava sempre um jeitinho...
É assim que ela cumpria
a sua grande missão...
cuidava de  tudo e de todos
com o zelo maior do mundo!

E lá no Posto de Saúde
nem mesmo o mendigo escapou.
Quando ela por lá o pegou,
o levou para dentro e disse:
“vá tomar banho, seu moço,
porque o senhor só volta prá rua
de barriga cheia e limpinho.
E toma aqui um dinheirinho
que é prá colocar no bolso.”

E quando havia um tempinho,
do Posto, lá do ladinho,
para o altar da igreja ela ia
fazer a sua adoração.
Ajoelhava e pedia,
com aquela fé de guerreira:
“Nossa Senhora cuide,
da minha família inteira”!

E quando os problemas chegaram,
e a sua saúde acabou,
quantas lágrimas rolaram
pelo trabalho que ela deixou.
Foram tempos difíceis de outrora
Que a minha mãe sem demora
Tudo, tudo enfrentou.

E o que poderíamos esperar daquela
que com toda aquela força
tantas vezes se recuperou?           
Nós havíamos perdido a esperança,
e a esperança nela brotou...
Depois de tanto tempo na cama,
a guerreira se levantou...
“Vocês cuidaram de tudo,
enquanto eu estava me recuperando”?

Quão surpresa eu fiquei
porque até bronca ela já estava dando!
Para sua cozinha voltou.
Da sua casa cuidou.
Fez tudo bem direitinho,
do jeitinho que sempre gostou!
A mesa sempre tão linda...
a casa toda arrumada...
O capricho e a perfeição superavam qualquer dor.

Porque maior do que tudo
sempre foi o seu amor.
E os dias difíceis de outrora
Ela havia em muito superado.
Afinal, se ela era Virtudes
Então, estava explicado.

E aquele pão,
o que é que tinha?
Como é que ela fazia?
Mais fermento?
Menos água?
Muita gente me perguntou:
Afinal, qual era o segredo?
O que a sua mãe colocava?
Quando ela me ensinou
e eu sem jeito fui fazendo,
quão brava ela ficou
e logo foi me dizendo:
“Meninaaa, o pão é alimento sagrado.
Quando puser as mãos na massa,
trate de ir prá Deus rezando,
peça que ele abençoe
o pão que ali está se formando”.

Lição que eu jamais esqueci:
minha mãe estava ensinando
que o segredo para tudo dar certo
é que Deus em todo momento
tem que estar sempre por perto!


E naqueles meses de outrora
a visita era incessante.
Enquanto alguns as escadas subiam,
outros as escadas desciam,
num movimento constante.

Alguns levaram uma flor.
Todos levaram carinho.

Alguns nos contaram histórias,
coisas que minha mãe tinha feito.
Todos levaram consigo
por ela um grande respeito.

Muitos não levaram flores,
nem histórias nos contaram.
Mas por ela quanto rezaram.

E quão feliz ela ficou
quando voltou a andar
porque na avenida João Pessoa,
os amigos que a visitaram,
que dela nunca se esqueceram
ela voltou a encontrar...
por onde minha mãe passava,
todo mundo a amparava.

Assim aquele trajeto
que duraria um segundo,
poderia levar até horas,
que ela não se incomodava.
O importante era encontrar
na avenida João Pessoa,
em cada ponto que entrava,
um amigo prá abraçar...
e lá sempre havia
um autêntico coração quatiguaense,
que da dona Mercedes cuidava
e ao meu pai sempre dizia:
“oh, seu Aristides, pode deixar,
que quando precisar,
nós ajudamos a atravessar,
e quando ela quiser ir embora,
nós ligamos prá avisar”.

E quão feliz ela ficou
porque voltou a passear
e na avenida João Pessoa,
os amigos que a visitaram,
que dela nunca se esqueceram
ela voltou a encontrar...
de cabelo arrumadinho,
unha feita e perfumada,
da minha mãe sempre arrumada,
muita saudade ficou...
na avenida João Pessoa...
em cada amigo do comércio...
que esteve sempre por perto quando ela precisou.

E quão feliz ela estava
porque onde ela entrava
todo mundo a recebia
com a atenção que ela gostava,
com o cuidado que ela merecia.
Foram dias melhores que os de outrora
e que a minha mãe sem demora
cada segundo aproveitou!
Afinal, se ela era Virtudes
então, quanta saudade deixou?



E o que dizer do meu pai,
Que dela tanto cuidou?
Se ele a amou na saúde,
se a adorou na mocidade,
ele a amou na doença
com muito mais intensidade!
Cuidou dela como uma rainha,
sem jamais lhe fazer ofensa!
Minhas amigas não se cansam,
encantadas de contar,
do dia em que convidaram
o meu pai para almoçar,
e ele foi logo dizendo:
“oh, meninada eu agradeço,
mas aqui mesmo eu vou ficar
pois da minha namorada
hoje eu tenho que cuidar”.

E o último ano foi o mais difícil.
Mas a minha mãe, guerreira de outrora,
Tudo, tudo enfrentou.
As suas lágrimas rolavam,
mas ela jamais reclamou.

E foi prá ficar mais um pouquinho,
que a minha mãe tanto lutou.

E foi prá ficar só mais um pouquinho,
que tudo de novo ela suportou.

E foi por cada filho seu
que cada segundo seu deu.

E foi por cada filho seu
que ela jamais desistiu de lutar...
Afinal ela era Virtudes,
e se quando nasceu
este nome recebeu,
é porque viveria para amar!

Virtudes,
Mercedes, como foi batizada,

Esposa do seu Aristides,
Mãe do Amauri,
Mãe do Giocondo,
Mãe do Henrique,
Mãe do Giovani,
Mãe segunda do genro e das noras,

Tão mãe quanto eu do Pedro Egidyo,
“Vó-anjo da guarda” do Leonardo,
Vovóóó do João Augusto,

Nona do Petterson e dos outros sete netos,
Noninha do Pietrus,
Bisavó.

Comadre,
Madriiinha,

Ede,
“Tia-anjo da guarda” do Edgar.
E da Daiane então,
que  cuidava com carinho
era vó, mãe e conselheira,
não se importava se longe
a menina morava,
amava as bisnetas e
na Argélia em sonhos chegava,
no exato momento de seu último suspiro
a neta amada ela avisava
que tinha cumprido o seu papel
a estrada a esperava,
que ficasse sossegada, despreocupada
porque partia mas o caminho conhecia!

Dona Mercedes do Posto,
Espanhola, espanhola,
 
Minha mãe,
você não morreu,
porque era grande demais...
você vive em cada um de nós,
porque nos amava demais...

Guerreira incansável,
você não morreu,
porque nos ensinou muito...
você está viva nos exemplos,
que fazem de nós o que somos...

Mulher de força, de fé e de coragem,
você não morreu,
porque era especial demais...
está viva no capricho de cada cantinho,
em cada flor do jardim...
no cheiro de sol dos lençóis,
no cheirinho do pão...
no brigadeiro de panela,
no “fica mais um pouquinho”,
no “faço já, no instantinho”,
em mais um sorriso...
no último beijo,
em mais um abraço apertado,
no último olhar...
na última palavra...
no floratta blue que ficou na avenida João Pessoa...
E hoje,
metade de todos nós é saudades,
e a outra metade também...
Mas, somos todos plenamente certeza
do quanto você está bem...

Sabemos que segurou nas mãos de Deus e foi...

Afinal, em mãos que sempre ofereceram tantas rosas,
muito perfume ficou!!!

Angela Maria Valle – filha-

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