A tropofobia – medo de mudar ou fazer mudanças – é inerente a natureza humana. O desconhecido é, por vezes, amedrontador e o imenso pavor diante de situações não familiares cria obstáculos tão poderosos que podem barrar até as mais benéficas transformações. Senão vejamos no decorrer destas mal traçadas linhas.
Eis que o povo de Rondônia desperta certo dia, aturdido com discurso alardeado pelas bandas do Legislativo de que o Governo vai privatizar as unidades hospitalares do Estado. Há apaixonadas manifestações de que os famigerados Hospital de Base, Hospital Regional de Cacoal, Cosme Damião e São Francisco serão “dados” a entidades descompromissadas e envoltas em escândalos de corrupção Brasil afora. Afirmam, ainda, que os laboriosos servidores públicos da Saúde serão escorraçados e substituídos por outros profissionais contratados ao bel prazer das ditas empresas. Faz-se audiência pública para um público seleto, indisposto a ouvir o “algoz”. Do lado contrário, existem recortes de jornais noticiando o fiasco da idéia em alguns lugares. Entre gritos, vaias e divagações o Governo retira o projeto da pauta e promete “análise” mais acurada junto ao Ministério Público, Tribunal de Contas e, é claro, deputados estaduais.
Observa-se que antes de qualquer debate acerca do tema, a desinformação chega para a opinião pública na forma de contra-informações, geradas por interesses pessoais, financeiros e/ou político-partidários.
É fato que se pode não ter lá tanta simpatia pelo sonhador Confúcio Moura, mas é necessário reconhecer a qualidade de um específico projeto que, saindo do papel, tem meios para revolucionar a saúde de Rondônia. O Programa Estadual de Organizações Sociais é de longe a melhor iniciativa que um governo rondoniense já teve para reverter o caótico quadro da saúde pública no Estado. O problema é que a idéia, de tão boa, ameaça.
Aos que ainda tentam entender o que são e para que servem as chamadas OSS, vai aqui a esdrúxula comparação: as organizações sociais estão para as unidades de saúde, como as administradoras estão para os condomínios. O síndico, eleito pelos moradores, exerce normalmente as funções de planejamento e abre mão, tão somente, da execução direta dos serviços. Em Rondônia, o governo já não executa diretamente muitos serviços – a exemplo da limpeza.
Grosso modo, o que realmente muda é fato da direção do hospital passar das mãos de um servidor de confiança (apadrinhado pelo governante ou algum partido) para as mãos de um grupo com capacitação técnica de gerenciamento hospitalar.
Ao usar a tribuna da Assembléia Legislativa, alguns parlamentares não pouparam ofensas a Organizações Sociais que prestam serviços em redes públicas de outros estados e municípios. “São corruptos! Querem roubar aqui também”.
Pena a população não saber que nossos representantes estavam ao microfone falando de entidades como a Santa Marcelina e a Cruz Vermelha – duas organizações dispostas a assumir um problema, até então, sem solução.
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