Foi Aliexo Gary, um frânces radicado no Rio de Janeiro, o primeiro a implantar junto ao governo carioca, em 1876, o serviço terceirizado de limpeza urbana. Há exatos 135 anos, a idéia de Gary – nome emprestado à terminologia que designa profissionais de limpeza das cidades – transformou-se em uma mina de ouro para quem tem trânsito, influência ou está no poder.
Desde então, alguns contratos de limpeza vêm “faxinando” os cofres públicos. Em Rondônia, o reflexo de tanto zelo, vez ou outra, chama a atenção dos órgãos fiscalizadores, ora pelo monopólio, ora pelos valores exorbitantes contratados. Em janeiro deste ano, a Justiça barrou, a pedido do Tribunal de Contas e Ministério Público, o pagamento de uma “bagatela” de R$ 22 milhões à empresa de limpeza, segundo ações trabalhistas, de propriedade do presidente da Assembléia Legislativa, Valter Araújo (PDT).
Na denúncia apresentada pelo promotor de Justiça João Francisco Afonso, há irregularidade nos cálculos inseridos em notas fiscais e ilegalidade na prorrogação do contrato sem o devido certame licitatório. O zeloso trabalho do Ministério Público culminou com o bloqueio de bens de vários envolvidos no “esquema”, entre eles o ex-secretário de Saúde, Milton Moreira.
De motorista a chefe do segundo poder, o parlamentar vem fazendo fortuna à custa de um limpa na Saúde. Valter presta serviços para, pelo menos, três unidades hospitalares: Hospital de Base, João Paulo II e Cemetron e, seguindo o provérbio popular de que para alguns a medida de “ter” não enche, quase foi a vias de fato com o diretor-geral do Detran, Airton Gurgacz, para abocanhar o contrato de limpeza do órgão. Arroubos de prepotência aqui, ameaças acolá, Valter Araújo não obteve sucesso na investida.
De fato, o chamado governo das boas idéias está patrocinando o inferno astral do presidente do Legislativo. Não bastasse a dificuldade na renovação de contratos, Valter Araújo vê-se aperreado com a possibilidade de implantação de Organizações Sociais (OS´s) para administrar unidades hospitales do Estado. O projeto do Executivo enviado à Assembléia prevê a terceirização de contratações em todos os segmentos, incluindo a limpeza que deixaria de ser feita pelas empresas do “guloso” deputado.
Os estudos elaborados por técnicos do Governo mostram significativa economia aos cofres públicos, mesmo assim já são questionados pelos deputados. Previsível, Valter Araújo conclamou a horda de aliados para barrar o projeto sob a alegação de que a Saúde do Estado será terceirizada.
Não se espante o leitor ao chegar à conclusão de tamanha incoerência do ilustríssimo presidente, já que hoje os serviços de limpeza são o puro fruto da terceirização.
Como ensinava o fundador do escotismo, tenente-general do Exército Britânico Robert Baden-Powell:
“Não é mais limpo o que mais limpa, mas sim o que menos se suja”.
Portanto, Valter Araújo está longe de ser o bom escoteiro.
Fonte:http://caleidoscopio2.rondoniagora.com/
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