quarta-feira, 6 de junho de 2012

EDUCAÇÃO, CAMINHO PARA O PRESÍDIO NÃO SER SOLUÇÃO


  • A educação é o caminho
    para o presídio não se tornar a solução.
    Faculdade de Direito – Concurso de Oratória/2008
    Angela Maria Valle

    À margem.
    Assim vivem muitos milhares de brasileirinhos,
    em condições ínfimas, subumanas.
    Vivendo em favelas. Sozinhos.
    Revirando lixões.
    Comendo os restos que a sociedade descarta, para encher a barriga doente,
    secar a alma inocente,
    olvidar qualquer esperança,
    calar a voz, excluir a vez.

    Juntando as peças,
    velhas, jogadas, vazias, rasgadas,
    que a “fina flor” descartou.
    Juntando as sobras,
    dos perfumados produtos importados,
    que a “flor que não se cheira” jogou,
    depois que se fartou.

    E são muitos,
    jogados nos latões, nos rios, nos vazios,
    como se fossem lixo,
    e “gente” não fossem mais.

    São personagens de horrores,
    de indignação,
    como
    diante das dores
    na ilha que não tinha flores,
    mas, tinha porcos tratados com luxo
    e crianças tratadas com lixo.

    Estão nas carvoarias. Escravizados.
    Lá são flores enegrecidas,
    de almas queimadas e vidas despedaçadas.

    Estão na miséria,
    tanta,
    que uma boneca quebrada,
    sem olhos, despedaçada,
    para a pobre menina,
    é uma princesa encantada.

    E se estão nas ruas pedindo, é porque o adulto mandou.
    E se estão nas ruas roubando, é porque quando não roubou, apanhou.

    Estão portando HIV,
    sem nem mesmo saber como.
    Estão empunhando metralhadoras,
    sem nem mesmo saber o porquê.
    Estão exibindo cicatrizes,
    deixadas por pais que se drogaram.
    Estão escondendo cicatrizes,
    deixadas por pais que abusaram.

    Eles assistem o crime.
    Eles assistem ao crime,
    vendo morrer para aprender a matar.

    E, assim,
    a sociedade, quando lhes fecha as portas da inclusão,
    abre-lhes a senda da criminalidade.
    Cerrando a porta de uma velha escola,
    abrirá,
    por certo,
    a de um novo presídio.

    De outra forma,
    na presença,
    no acolhimento,
    no incentivo,
    nas constantes demonstrações de afeto e de apoio incondicional,
    as crianças são impulsionadas desde o início,
    e levadas a tornarem-se adultos fortes,
    trabalhadores ávidos,
    aquiescentes apenas do bem.
    Verdadeiros propulsores da justiça.
    Longe dos cárceres sociais,
    não se aproximarão dos presídios.

    Onde está a família?
    O que faz a comunidade?
    O que empreende a sociedade?
    O que fazem tão importantes instituições se as oportunidades necessárias ao pleno desenvolvimento, em condições de liberdade e de dignidade, desses tantos milhares de brasileirinhos, que têm assegurados todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, não são devidamente efetivadas?

    E o Poder público?
    Constrói presídios para esperá-los no futuro, caso entranhem-se no crime.
    Porque retirá-los das ruas, das favelas e dos lixões; assegurar-lhes efetivamente o direito à vida, à saúde e à educação; incentivar o esporte, o lazer e a profissionalização;
    garantir o pleno acesso à cultura e promover condições dignas de desenvolvimento dificultam, por certo, aliená-los.
    Esse é o mecanismo.
    E por essa razão as mudanças não são geridas,
    os resultados não vêm,
    as políticas sociais não existem.
    E, se existem, não funcionam.
    E, se existem e funcionam, não são suficientes.

    O que faz o Poder público
    em um país de crianças estupradas,
    de vidas ameaçadas,
    de tiros, de balas, de morte,
    de pouca sorte
    para uma multidão de miseráveis,
    esquecida, castigada,
    excluída, marginalizada?

    Diante de tanta alienção,
    eu não posso ficar calada,
    fazendo de conta que sou muda
    e que tudo isso é quase nada...

    Porque "um país que crianças elimina
    que não houve o clamor dos esquecidos
    onde nunca os humildes são ouvidos
    e uma elite sem Deus é quem domina
    que permite um estupro a cada esquina
    e a certeza da dúvida infeliz
    onde quem tem razão baixa a cerviz
    e massacram-se o negro e a mulher
    pode ser o país de quem quiser
    mas não é, com certeza, o meu país".


    Angela Maria Valle: Estudante de direito Faculdade de Jacarezinho Paraná

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