Meus Filhos na escola |
O sucesso é multivitelino é o fracasso é órfão. Na educação brasileira, não é diferente. Políticos, “o sistema’’, o capitalismo, as elites, a herança escravocrata; cada pessoa tem o seu vilão. Mas para os educadores brasileiros os culpados preferenciais são os pais dos alunos. Quando se perguntou, em pesquisa da UNESCO, quais fatores influenciam a aprendizagem, o item campeão para os nossos professores foi” acompanhamento e apoio familiar “, mencionado por 78%. “ Competência do professor “ foi citado por apenas 32%, “ gestão da escola “ ,por só 10% . em livro de Tânia Zagury, quando fala sobre a indisciplina do alunado, 44% dos mestre s aponta a “falta de limite” dos alunos como causa . outros são mais diretos a atribuem o problema á “ falta de educação familiar”. A inabilidade do professor não é mencionada nem como hipótese .Em outro livro , A Escola Vista por Dentro, os pais também aparecem como culpados por seus filhos não fazerem o dever de casa , para mais da metade dos professores. No questionário dos professores da Prova Brasil, mais de 80% declaram que o baixo aprendizado é “ decorrente do meio em que o aluno vive” . Em estudo que deu origem ao livro Repensando a Escola, os pesquisa dores escrevem o seguinte : “ Chama atenção a freqüência com que professores e diretores se referem á questão da família dos alunos : muito do que acontece de bom e de ruim na escola é explicado pela origem familiar.Uma pergunta do tipo ‘como você avalia o nível de leitura dos alunos da 4ª serie? É respondida da seguinte maneira: eles são fracos, não sabe ler muito bem, não gostam de ler, porque em casa ninguém incentiva.
É compreensível que assim o seja. O establishment educacional brasileiro culpa os pais não apenas por serem pobres e não apoiarem suficientemente o aprendizado dos filhos coisas que eles têm reais dificuldades para fazer, já que quase 60% têm ensino fundamental incompleto, mas também por supostamente transferirem à escola tarefas que deveriam ser da família. A explicação é assim: nós, escola, não conseguimos alfabetizar porque precisamos devotar o tempo que seria do ensino para dar á criança tudo o que Le falta em casa: afeto, lições de anseio, noções de respeito ao próximo e de ética, cidadania ou meio ambiente. Nossas escolas não conseguiriam realizar agenda “mínima ’’ ( transmitir conhecimento e competência s) porque estão assoberbadas com uma agenda máxima , que lhe seria imposta pela sociedade.
Essa leitura é duplamente esquizofrênica. Em primeiro lugar, porque os pais não defendem esse papel messiânico para as nossas escolas. pelo contrário . Pesquisa CNT/Senso perguntou explicitamente aos pais dos alunos da escola pública se eles preferiam uma escola que ensina a matéria e prepara profissionalmente o filho a uma escola que forma o cidadão. Venceu o grupo dos que querem o ensino das matérias e o foco no trabalho, com 56%. Em segundo, porque esses temas adicionais não são requisições da sociedade que educadores precisam acatar. Pelo contrario. Os geradores das pressões para a expansão do universo escolar são os profissionais do setor. Porque muitos educadores e pedagogos são, na verdade, ativista social em busca de uma causa. Seu objetivo é mudar o mundo, e os alunos são apena s um veículo. Na enquete da UNESCO com professores, “formar cidadãos conscientes” foi apontado como finalidade mais importante da educação para 72%. “Proporcionar conhecimentos básicos ‘’ foi lembrada por apenas 9%. O resultado final da Conferência Nacional de Educação do ano passado, que filtrou as recomendações dos trabalhadores do setor, foi um documento com 677(!) emendas aprovadas. (Este e outros documentos estão disponíveis em twitter.com/gioschpe.) É natural que o professor seja atraído à carreira pela possibilidade de conquistas que vão além do ensino. A diferença entre esses países e o Brasil é que La a maioria dos professores entende que não há melhor maneira de “salvar” uma criança do que dando a ela um ensino de qualidade. E, quando não existe compreensão, há governantes que arbitram compromissos entre os desejos da sociedade e dos professores em favor do bem social.
O lado mais cruel do nosso ciclo vicioso é que os pais, indiciados pelo fracasso de um sistema sobre o qual não têm responsabilidade, não apenas não se revoltam , como estão satisfeito com a qualidade do ensino dos filhos.Em pesquisa do Inep, deram nota 8,6 á qualidade do ensino , ainda que o Ideb mostre que o ensino real não alcança a metade disso . Na CNT/sensus, 63% deram conceito “positivo” á escola do filho e mais de 31% “regular”. Se a escola é boa e o filho não aprende , então o culpado só pode ser o filho.
Completamos, assim, o circo dos horrores .As vitimas viram culpados , os aliados dos alunos viram seus algozes, aqueles que sobrecarregam o sistema são visto como vitimas .Os profissionais da educação conseguiram criar o mito ideal para escapar de suas responsabilidades: não consegue dar conta do mínimo porque a sociedade lhes exige o Máximo , e não há como atingi-lo quando”o meio” é tão hostil às virtudes do intelecto e da alma.
Se o pais quiser prosperar, precisara de educação melhor .E , se quisermos educação melhor ,precisaremos romper essas falácias e recomeçar o diálogo pais –família,baseado em premissas básicas .Primeira : num regime democrático ,o povo é soberano, e cada pessoa sabe que tipo de serviço público deseja.Se a maioria da população quer uma escola que forme para o trabalho,essa é a educação que nossos governantes deveriam perseguir . A sociedade, e não o funcionário público estabelece o norte. Segunda: a primeira função da escola é ensinar competências básicas, como ler e escrever. Mesmo que a sociedade venha a demandar uma educação para a formação do cidadão critico e consciente, não possível sê-lo enquanto analfabeto.precisamos concordarem uma agenda mínima, a respeito da qual o insucesso,por parte da escola,é inaceitável.Terceira:algumas responsabilidades familiares são intransferíveis.Cabe aos pais dar aos filhos afeto,cuidar da saúde física e psicológica e transmitir-lhes noções elementar de ética e respeito ao próximo.Sim, eu sei,o mundo não é perfeito,e muitos pais de todas as classes sócias não cumprem com suas obrigações.Mas atenção:a falência dos pais não transfere ao professor essa responsabilidade.Seria tão absurdo transferir a professores responsabilidade primeira por transmitir carinho e ética aos seus alunos quanto pedir aos pais que ajudem na alfabetização dos filhos.O estado tem médicos,assistentes sociais s e policiais para lidar com os problemas mais graves causados pelos insucessos desses pais.Os menos graves,que afetam o foro intimo de cada pessoa,não serão sanados por professores,mas talvez por psicólogos.Os professores não podem salvar o mundo.Primeiro porque ninguém lhes outorgou essa incumbência.E segundo porque,mesmo que quisessem, não conseguiriam.Precisamos convencer nossos professores de que transmitir os conhecimentos e capacidade intelectuais que darão ao jovem as condições de exercer plenamente o seu potencial não é um reducionismo,mas uma conquista superlativa.Como diz Felipe Gonzalez,ex- premiê espanhol,”um outro mundo é possível .Mas este é manifestamente melhorável”.
P.S. Um dos instrumentos que podem ajudar a mediar um diálogo mais produtivo entre pais e o sistema escolar é o projeto “Ideb na escola “, defendido aqui nos dois últimos meses . Desde a última coluna, o sistema se espalhou em progressão geométrica ,e já foi adotado pelo Rio de Janeiro e por Goiás .leis tramitam em Minas Gerais , Espírito Santo ,Mato grosso,Rondônia,Piauí,Manaus,Vitória,Búzios e Criciúma, entre outras . A equipe de Nizan Guanaes terminou o desenho das placas que devem adornar as entradas principais das escolas, material que esta disponível no site www.idebnaescola.org.br
Fonte: Revista veja.
Fonte: Revista veja.
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