sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A TENSA RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA

Meus Filhos na escola
O sucesso é multivitelino é o fracasso é órfão. Na educação brasileira, não é diferente. Políticos, “o sistema’’, o capitalismo, as elites, a herança escravocrata; cada pessoa tem o seu vilão. Mas para os educadores brasileiros os culpados preferenciais são os pais dos alunos. Quando se perguntou, em pesquisa da UNESCO, quais fatores influenciam a aprendizagem, o item campeão para os nossos professores foi” acompanhamento e apoio familiar “, mencionado por 78%.  “ Competência  do professor “  foi citado por apenas  32%, “ gestão  da escola “ ,por  só 10% . em livro  de Tânia Zagury, quando fala sobre a indisciplina do alunado, 44% dos mestre s aponta a “falta de limite” dos alunos  como causa . outros  são mais diretos a  atribuem o problema á “ falta  de educação familiar”. A inabilidade  do professor não  é  mencionada nem como hipótese .Em outro livro , A Escola Vista por Dentro, os pais  também   aparecem como  culpados  por seus filhos não fazerem o dever de casa , para mais da metade  dos  professores. No questionário  dos  professores  da  Prova Brasil, mais de 80% declaram  que o baixo aprendizado é  “ decorrente do meio em  que o aluno vive” . Em estudo que deu origem ao livro Repensando a Escola, os  pesquisa dores  escrevem o seguinte : “ Chama  atenção  a freqüência  com que professores  e diretores  se referem  á   questão  da família dos alunos :  muito do que  acontece de bom e de ruim   na escola  é explicado  pela origem familiar.Uma  pergunta  do tipo ‘como você  avalia o nível  de leitura  dos  alunos  da  4ª serie? É respondida da seguinte maneira: eles são fracos, não sabe ler muito bem, não gostam de ler, porque em casa ninguém incentiva.
                É compreensível que assim o seja. O establishment educacional brasileiro culpa os pais não apenas por serem pobres e não apoiarem suficientemente o aprendizado dos filhos  ­coisas que eles têm reais dificuldades para fazer, já que quase 60% têm ensino fundamental     incompleto, mas também por supostamente transferirem à escola tarefas que deveriam ser da família. A explicação é assim: nós, escola, não conseguimos alfabetizar porque precisamos devotar o tempo que seria do ensino para dar á criança tudo o que Le falta em casa: afeto, lições de anseio, noções de respeito ao próximo e de ética, cidadania ou meio ambiente. Nossas  escolas  não  conseguiriam realizar agenda “mínima ’’  ( transmitir  conhecimento e competência s) porque  estão assoberbadas  com uma agenda máxima , que  lhe  seria  imposta pela  sociedade.
         Essa leitura é duplamente esquizofrênica. Em primeiro lugar, porque os pais não defendem esse papel messiânico para as nossas escolas. pelo contrário . Pesquisa CNT/Senso perguntou explicitamente aos pais dos alunos da escola pública se eles preferiam uma escola que ensina a matéria e prepara profissionalmente o filho a uma escola que forma o cidadão. Venceu o grupo dos que querem o ensino das matérias e o foco no trabalho, com 56%. Em segundo, porque esses temas adicionais não são requisições da sociedade que educadores precisam acatar. Pelo contrario.  Os geradores das pressões para a expansão do universo escolar são os profissionais do setor. Porque muitos educadores e pedagogos são, na verdade, ativista social em busca de uma causa. Seu objetivo é mudar o mundo, e os alunos são apena s um veículo. Na enquete da UNESCO com professores, “formar cidadãos conscientes” foi apontado como finalidade mais importante da educação para 72%. “Proporcionar conhecimentos básicos ‘’ foi lembrada por apenas 9%. O resultado final da Conferência Nacional de Educação do ano passado, que filtrou as recomendações dos trabalhadores do setor, foi um documento com 677(!) emendas aprovadas. (Este e outros documentos estão disponíveis em twitter.com/gioschpe.) É natural que o professor seja atraído à carreira pela possibilidade de conquistas que vão além do ensino. A diferença entre esses países e o Brasil é que La a maioria dos professores entende  que não há  melhor maneira de “salvar” uma criança  do que dando  a ela um ensino de qualidade. E, quando não existe compreensão, há  governantes   que  arbitram  compromissos entre  os desejos  da sociedade  e dos professores  em favor  do bem  social.
          O lado mais cruel do nosso ciclo vicioso é que os pais, indiciados  pelo fracasso  de um  sistema  sobre  o qual  não têm  responsabilidade, não  apenas não se  revoltam , como estão satisfeito   com  a qualidade do  ensino dos filhos.Em pesquisa  do Inep, deram nota 8,6 á  qualidade do ensino , ainda  que  o Ideb  mostre  que o ensino real  não  alcança  a metade  disso . Na CNT/sensus, 63% deram conceito “positivo” á escola do filho e mais de 31% “regular”. Se a escola é boa  e o filho não aprende , então o culpado só pode ser o  filho.
Completamos, assim, o circo dos  horrores .As vitimas  viram culpados ,  os aliados  dos alunos  viram seus algozes, aqueles  que sobrecarregam o sistema  são visto como vitimas .Os profissionais da educação  conseguiram  criar o mito ideal para escapar de suas responsabilidades: não consegue dar conta do mínimo porque  a sociedade lhes  exige o Máximo , e não há como atingi-lo quando”o meio” é tão hostil às virtudes do intelecto e da alma.                                                                                                                                                                                                               
      Se o pais quiser prosperar, precisara   de educação  melhor .E , se  quisermos  educação melhor ,precisaremos  romper  essas falácias  e recomeçar  o diálogo pais –família,baseado  em  premissas  básicas .Primeira : num regime democrático ,o povo é soberano, e cada pessoa  sabe  que  tipo de serviço público deseja.Se a maioria da população quer uma escola que forme para o trabalho,essa é a educação que nossos governantes deveriam  perseguir . A sociedade, e não o funcionário público estabelece o norte. Segunda: a primeira função da escola é ensinar competências básicas, como ler e escrever. Mesmo que a sociedade venha a demandar uma educação para a formação do cidadão critico e consciente, não possível  sê-lo   enquanto analfabeto.precisamos concordarem uma agenda mínima, a respeito da qual o insucesso,por parte da escola,é inaceitável.Terceira:algumas responsabilidades familiares são intransferíveis.Cabe aos pais dar aos filhos afeto,cuidar da saúde física e psicológica e transmitir-lhes noções elementar de ética e respeito ao próximo.Sim, eu sei,o mundo  não é perfeito,e muitos pais de todas as classes sócias não cumprem com suas obrigações.Mas atenção:a falência dos pais não transfere ao professor essa responsabilidade.Seria tão absurdo transferir a  professores responsabilidade primeira por  transmitir carinho e ética aos seus alunos quanto pedir aos pais que ajudem na alfabetização dos filhos.O estado tem médicos,assistentes sociais s  e policiais para lidar com os problemas mais graves causados pelos insucessos desses pais.Os menos graves,que afetam o foro intimo de cada pessoa,não serão sanados por professores,mas talvez por psicólogos.Os professores não podem salvar o mundo.Primeiro porque ninguém lhes outorgou essa incumbência.E segundo porque,mesmo que quisessem,  não conseguiriam.Precisamos convencer nossos professores de que transmitir os conhecimentos e capacidade intelectuais  que darão ao jovem as condições de exercer plenamente o seu potencial não é um reducionismo,mas uma conquista superlativa.Como diz Felipe Gonzalez,ex- premiê espanhol,”um outro mundo é possível .Mas este é manifestamente melhorável”.
       P.S. Um dos instrumentos que podem ajudar a mediar um diálogo  mais  produtivo entre pais e  o sistema  escolar é o projeto “Ideb  na escola “,  defendido aqui nos  dois últimos meses . Desde a última coluna, o sistema  se espalhou  em  progressão   geométrica ,e já  foi  adotado  pelo  Rio de Janeiro  e por Goiás .leis tramitam  em Minas Gerais ,  Espírito  Santo ,Mato grosso,Rondônia,Piauí,Manaus,Vitória,Búzios e Criciúma, entre outras . A equipe de Nizan Guanaes terminou o desenho das placas que devem adornar as entradas principais das escolas, material que esta disponível no site www.idebnaescola.org.br
Fonte: Revista veja.

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