Era uma vez, nos tempos passados e também no tempo presente, uma pequena cidadezinha do interior, muito no interior de um grande País. Esta cidadezinha, nova na história do Estado mas muito promissora, formada por gente vinda de todos os rincões, homens e mulheres que vieram dos rigores do frio sulista, e que apesar do calor escaldante da pequena cidade, tomavam alegremente o seu "mate" diário, como se fosse o mais refrescante dos sucos, tudo em nome da tradição. Tinha homens e mulheres que vierem do nordeste deste País, e trouxeram junto a sua famosa "buchada de bode", e também o tratavam como um manjar dos deuses, tudo em nome da tradição. Tinha os que vierem do sudeste do País, e faziam queijo como ninguém. Enfim a pequena cidadezinha encravada nos confins do País era uma verdadeira democracia demográfica, onde viviam e conviviam harmoniosamente, - apesar de alguns tiros de vez em quando - entre si, trabalhando e progredindo, pois a terra era generosa, com muita água, muita chuva, muito sol o ano todo, onde tudo o que se planta, se bem cuidado produz. Mas esta pequena cidade situada nos confins do mundo, padecia desde a sua fundação de um problema crônico com relação à escolha do homem ou mulher que por um determinado período deveria ser o gestor dos recursos que pertencem ao povo, enfim, aquele que representaria os anseios dos residêntes e dos que querem residir no pequeno lugar. Mas por falta de prática, e muitas vezes embasbacados pelos belos discursos ou pela não aceitação pura e simples de alguns nomes postos à disposição, os cidadãos em diversas ocasiões – e esta foi uma delas- acabaram por escolher nomes que não se revelaram dos melhores, inclusive chegando ao ponto de entregar o destino do povo residentes fora de suas fronteiras e que por mais de uma vez dilapidaram os seus já parcos recursos. Mas o aprendizado é muito difícil e doído, toda vez que era necessário escolher um novo gestor tinha-se um problema com a indicação de nomes que eram "enfiados goela abaixo" do povo, que sem saber o que fazer e revoltados com a imposição, criaram a estratégia do "voto de protesto", que como dizia um velho conhecido "fabricador" de farinha de tubérculo: este voto de protesto, no final se vira contra quem protestou. Sabedoria popular pura e simples, mas contendo a experiência de quem já viu muitas coisas acontecerem e sabia que aconteceria também na pequena cidade. Inclusive na última vez que o povo se reuniu para escolher o homem que conduziria os destinos da terra, novamente resolveu protestar contra o homem que veio do povo, se beneficiou das benesses propiciadas pelo povo, mas que não amava o povo, pois queria ficar sempre na memória como o seu salvador, e no final terminava por fazer o povo sofrer, pois sempre indicava e apoiava um nome que não tinha qualquer ligação com o povo da terra, geralmente “empurrava e continua querendo empurrar” um nome conhecido do pequeno núcleo da sociedade, mas um completamente desconhecido da grande massa do povo, daquela que tem muito peso eleitoral mas pouco tempo para dissecar o conhecimento dos nomes apresentados. Em razão disto o povo se revolta e protesta, e cada vez fica pior a situação do lugar, pois o escolhido não consegue o amor e o apoio dos cidadãos, e no final não é "nem amado nem temido, simplesmente ignorado". O que aconteceu com o último escolhido, indicado pelo povo por revolta pela forma como foi imposto alguns nomes, e terminaram por escolher o mais improvável dos que estavam no páreo disputando a indicação, tão improvável que nem ele acreditou quando terminou o sufrágio e veio o resultado final indicando que o último agora era o primeiro. Vivas e urras alegria de alguns, tristeza de muitos, sim porque no atual sistema geralmente o escolhido nunca tem mais que 30% de apoio, e outros 70% da população apóiam, porque não queriam ou simplesmente ignoram o nome escolhido o que no final dá no mesmo e determina o sucesso ou não do eleito, o progresso ou não da sociedade. Mas voltando a história, o último escolhido quando viu o seu nome vitorioso estufou o peito e em alto e bom tom tascou: vou mostrar como se gerencia uma cidade sem apoio de ninguém, pois eu não preciso de governador, deputado, senador, vereador então, afinal para que servem a não ser querer me fiscalizar, eu vou é administrar com o ministério público, que vai ser o meu parceiro, como vivemos em um mundo onde a moda é parceria e vou fazer parceria com o promotor e com ninguém mais.
ONTEM FICOU PATENTE QUE O HOMEM ESCOLHIDO PELO POVO PARA DEFINIR OS RUMOS DA ECONOMIA E DA CIDADE, REALMENTE NÃO PRECISA DE NINGUÉM PARA CUMPRIR AS SUAS METAS, SE É QUE TEM ALGUMA. POR MAIS INCRÍVEL QUE POSSA PAREÇER, VEIO ATÉ A SUA CIDADE UM SENADOR DA REPÚBLICA, UM VICE-GOVERNADOR DE ESTADO, UM DEPUTADO QUE REPRESENTA NA CÂMARA FEDERAL, UM DEPUTADO QUE REPRESENTA O POVO NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, QUASE TODOS OS VEREADORES DO SEU MUNICÍPIO, E MUITOS HOMENS E MULHERES DO POVO,
EM PLENA SEXTA FEIRA, VÉSPERA DE FERIADO, ESTES IMPORTANTES HOMENS, QUE TEM DESTINADO MILHARES DE REAIS PARA O PEQUENO MUNICÍPIO BENEFICIAR O POVO,
SE DESLOCAM DE SEUS LARES, E AO AQUI CHEGAREM NÃO ENCONTRAM O MAIS ILUSTRE REPRESENTANTE DO POVO, QUE PASSOU O DIA TODO CIRCULANDO E
EM SEU BRINQUEDINHO BRINDADO, SENDO REPRESENTADO NA MESA POR UM DE SEUS SECRETÁRIOS QUE AO DISCURSAR PEDE DESCULPAS AOS PRESENTES POR NÃO SABER QUE IRIA REPRESENTAR O ALCAIDE E POR ISSO NÃO ESTAVA PREPARADO PARA TAL. MAS TEM QUE SER PARABENIZADO POIS AO MENOS LÁ ESTAVA E NO HORÁRIO MARCADO, E TEVE A CORAGEM DE SER HONESTO COM AS AUTORIDADES, AFINAL O SEU PAPEL É OUTRO. MAS EIS QUE QUANDO A REUNIÃO JÁ IA PELO MEIO ESTRIDENTEMENTE CHEGA O ILUSTRE REPRESENTANTE ACOMPANHADO DE UM SÉQUITO DE SEGURANÇA E SECRETÁRIOS DE ADENTRAM O RECINTO CUMPRIMENTADO O POVO, E TODA A MESA POSTA, TROCANDO DE LUGARES, ENFIM FAZENDO O SEU MARKETING PESSOAL SENTANDO AO LADO DO SENADOR, AFINAL NÃO É TODO DIA QUE UMA PEQUENA CIDADE RECEBE A VISITA DE TÃO ILUSTRE CIDADÃO. MAS ISTO AINDA NÃO ERA TUDO, QUANDO O POVO PENSA QUE NADA MAIS TEM PARA SER VISTO, AI SE DÁ CONTA QUE AINDA NÃO VIU NADA, POIS JÁ IA ALTO A REUNIÃO E QUANDO NO MEIO DO BELO DISCURSO DO ILUSTRE REPRESENTANTE NA CÂMARA FEDERAL QUE IA INFORMAVA AOS PRESENTES E A MESA O QUANTO GOSTA DESTA TERRA E QUE ESTÁ DESTINANDO RECURSOS PARA MELHORAR O VIDA DO POVO, POR MAIS INCRÍVEL QUE POSSA PARECER O ALCAIDE SIMPLESMENTE SE LEVANTA, DA TCHAIZINHO PARA A MESA SAI CUMPRIMENTANDO O POVO ACOMPANHADO DO SEU SÉQUITO, QUE AO PRIMEIRO MOVIMENTO DO CHEFE SE LEVANTARAM
EM ÚNISSONO NO MEIO DO POVO E O ACOMPANHAM
PARA FORA DO RECINTO CERTAMENTE
EM SEU FRENÉTICO VAI E VEM VISITANDO AS GRANDES OBRAS DO MUNICÍPIO. AOS QUE ESTAVAM NA MESA NADA RESTOU A NÃO SER A VERGONHA PELO MAL ESTAR REINANTE, ESPECIALMENTE QUANDO ORADOR FEZ SUA ILAÇÃO:
O PREFEITO ESTÁ SAINDO, POIS DEVE TER ALGUM COMPOROMISSO INADIÁVEL AGORA ÀS 16 HORAS E
REALMENTE TINHA, POIS ÀS 16h45min ESTAVAM CIRCULANDO ALEGREMENTE COM A SUA VIATURA BLINDADA, SEU SEGURANÇA E SEUS SECRETÁRIOS, VINDO PELA AVENIDA BRASIL, SAINDO DA GETÚLIO VARGAS E SUBINDO PELO DIOMERO MORAIS BORBA FISCALIZANDO OS BURACOS QUE AINDA TINHAM RESISTIDO AO
“TAPA BURACOS” EFETUADO NO DIA. ILUSTRES REPRESENTANTES, HOMENS DE MUITOS COMPROMISSOS
EM TODO O ESTADO, NÃO SE SINTAM FRUSTADOS E NÃO ABANDONEM NOSSA CIDADE,
POIS ALGUNS JÁ O FIZERAM, E O POVO NÃO MERECE, AFINAL ERRAR É HUMANO, FELIZMENTE SOMOS HUMANOS, POR ISSO
COMETEMOS ERROS, MAS PEDIMOS DESCULPAS PELOS NOSSOS DESLIZES E PODEM TER CERTEZA QUE PARA O POVO DESTA TERRA E PARA OS QUE OS REPRESENTAM NO LEGISLATIVO VOSSAS EXCELÊNCIAS SERÃO SEMPRE BEM VINDOS
EM NOSSA PEQUENA, MAS GLORIOSA CIDADE.